segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Troca-troca

No início deste mês peguei um vestido preto no Clube de Trocas e deixei lá um livro, "A desobediência civil", de Thoreau.
Fiquei bem contente quando um amigo veio me dizer que o havia pego, e que estava muito feliz com a aquisição feita, e agradeceu por eu ter disponibilizado o livro lá. 
Isso foi bem mais legal do que conseguir um vestido bonitinho.

Gostaria que a ideia de trocas de livro anônima desse certo... Havia uma proposta assim, há um tempo atrás, me lembro um pouco... Devíamos imprimir uma etiqueta, e colocar num livro, e deixá-lo circulando por ai. 
E a pessoa que o encontrasse e quisesse ler, depois disso deveria "devolvê-lo" para a rua. 
O legal é que a pessoa poderia entrar em contato e contar sua experiência através da leitura. 
O mais próximo disso que tive foi o Skoob, site através do qual podemos trocar livros. 
Lembro que troquei com uma moça o "Mentes inquietas", sobre TDAH, por um de contos do Edgar Alan Poe, que é divertido. 

Semana passada fui até um sebo láaaaa na Parada Inglesa atrás de um livro que há tempos queria ler, "O jogo das contas de vidro", do Hermann Hesse, e na página de rosto esta escrito "Pertence a Thereza Daminello, Rua Bela Cintra, 468 ap 54 Fone 256-6557"
Fiquei com vontade de ligar, entrar em contato de alguma forma, mas ainda não tive coragem, não sei se vou parecer maluca, se vou encontrar a pessoa, se não encontrar será frustrante, e se encontrar e ela quiser o livro de volta e eu ainda nem terminei de ler? E se ela agradecer? E se for algo importante para ela? Não sei. 

Bom, já que este post esta meio aleatório aqui no meio deste blog, vou trocar de foco, como numa conversa de mesa de bar, puxando do livro do Hesse um trecho, e vou ver se dá para relacioná-lo com o "Pós humano por que?" e se eu tiver coragem de procurar a moça, conto aqui depois

Lá vaio trecho:

"É que se acabara de descobrir (descoberta já pressentida desde Nietzsche, aqui e acolá), que a juventude e o período criador da nossa cultura pertenciam ao passado, que a decrepitude e o ocaso haviam surgido, e em razão dessa descoberta pressentida por todos, e por muitos formulada sem rebuços, se esclareciam muitos sinais inquietantes dos tempos: a mecanização insulsa da vida, a profunda queda da moral, a falta da crença dos povos, a falta de veracidade da arte. Como, naquela maravilhosa lenda chinesa, a 'música da decadência' havia ressoado, e como o baixo ameaçador de um órgão, vibrava já há dezenas de anos, derramava-se qual corrupção nas escolas, nos jornais, nas academias, derramava-se como neurastenia e doenças mentais na maioria dos artistas e críticos sérios, debatia-se qual selvagem e diletântica super-produção em todas as artes. Havia várias maneiras de se contrapor a esse inimigo que se infiltrava e que não era mais possível libertar de seu feitiço. Podia-se procurar afastá-la como uma ilusão, e para esse fim os anunciadores literários da teoria da decadêmcia da cultura ofereciam muitas armas cômodas; além disso, quem entrava em luta com aqueles ameaçadores proferas, era ouvido pelo cidadão e adquiria influência sobre ele, porque o cato de a cultura, que ontem ainda se acreditava possuir e de que tanto se orgulhava, estava desprovda de vida, o fato de a instrução tão apreciada pelo cidadão ter deixado de ser uma genuína instrução, como a arte apreciada por ele deixara de ser genuína, parecia-lhe tão insuportável e chocante como a repentina inflação monetária e a ameaça de perder a fortuna com as revoluções. Além do mais, para combater o pressentimento a decadência havia ainda o comportamento cínico: ia-se dançar, e explicava-se qualquer preocupação pelo futuro como uma tolice arcaica, cantavam-se inspirados folhetins sobre o próximo fim da arte, da ciência e da linguagem, cnstatavam-se com uma volúpia semelhante a do suicida, a completa desmoralização do espírito, a inflação das ideias no mundo do folhetim, nesse mesmo mundo que se havia construído de papel. Era como se víssemos com cínica apatica, ou com excitação de bacanal, que não só a arte, o espírito, os costumes e a probidade desapareciam no abismo, mas que o mesmo acontecia com a Europa e o "mundo". Entre os bons reinava um pessimismo taciturno, e entre os maus um pessimismo pérfido." (Hermann Hesse, O jogo das contas de vidro)

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